Braço da canadense Constellation chega a 12 aquisições no Brasil
A empresa tem adotado estratégia de compra total de empresas, mas sem grandes interferências na operação
Por Manuela Tecchio — São Paulo
22/01/2024 13h12
Gigante canadense de softwares, a Constellation está fazendo do Brasil uma de suas estrelas. Uma de suas seis grandes divisões, a Vela tem feito aquisições em ritmo acelerado no país. Diante do avanço dos investimentos na região, a subsidiária desmembrou uma nova subdivisão, na pandemia, em meados de 2020, para atender mais de perto as demandas. Desde então, a Vela Latam já fez 16 aquisições em países latino-americanos, das quais 12 no Brasil.
A mais recente aquisição no país — a 12ª, no caso — acaba de ser fechada. Trata-se da Servcom, uma empresa familiar fundada há quase 40 anos em Belo Horizonte e que se especializou no desenvolvimento de softwares e soluções tecnológicas para cartórios. São cerca de 150 clientes atendidos pela plataforma, a maioria no segmento de registro de imóveis.
A companhia mineira tem o exato perfil do que a empresa canadense tem buscado no Brasil. "Nossa vertical adquire softwares em mercados verticais, mas com o diferencial de adquirir para perpetuidade, não é lógica de venture capital nem o M&A clássico. A gente trabalha para manter as empresas independentes e autônomas. Esse acaba sendo um apelo pra quem tem empresas mais tradicionais ou familiares", explica o CEO da Vela Latam, Paulo Felipe Martins, ex-Deloitte e Datamine.
O CEO da Servcom, Bernardo Lara, que já fazia parte da direção da empresa antes do M&A e assumiu o comando após a chegada da Vela, conta que a companhia vinha enfrentando um desafio de sucessão e que por isso o assessor de investimentos dos sócios já estava buscando possíveis interessados. “A proposta da Vela casou muito bem, porque tem essa filosofia de manter a equipe e a operação como está. Os sócios queriam manter isso.”
Primeira adquirida do grupo no país, a catarinense Aurum, focada em escritórios de advocacia, também se beneficiou da estratégia da Vela, que consiste em adquirir totalmente as empresas, mas manter a cultura e estratégia inalteradas. Além disso, a rede de network entre os fundadores e executivos das adquiridas é trabalhada como um ativo do grupo.
"A Vela preza pela independência, saúde e sustentabilidade das empresas, por isso não interfere em estratégia, cultura ou mesmo no dia a dia da operação", conta Marcela Quint, CEO da Aurum. "A sinergia com o grupo trouxe para nós muita maturidade nos últimos anos, nos beneficiamos muito das trocas com as demais empresas do grupo e dos profissionais renomados."
Na bolsa de Toronto, a Constellation Software vale 77,5 bilhões de dólares canadenses. No portfólio do grupo, estão mais de mil empresas adquiridas ao redor do mundo. A Vela Software, uma das seis principais divisões da holding e controladora da Vela Latam, detém 200 startups no ecossistema.
Também pelos segmentos em que procura operar, a Vela tem encontrado mais oportunidades no Brasil. Com um mercado legal complexo e burocrático, mas em pleno processo de digitalização e inovação tecnológica, o país tem se destacado pelo grau de avanço dos produtos. Já são cinco empresas do segmento jurídico e outras três em contabilidade. A holding espera encerrar o ano de 2024 com entre seis e oito novas aquisições na região.
"Ainda existem muitos problemas não resolvidos e muita oportunidade, mas é fato que somos um dos países mais desenvolvidos em tecnologia para a área jurídica. Boa parte dos demais países da América Latina ainda não digitalizou muitas etapas de um processo jurídico", diz Quint.
No ramo de cartórios, o desafio talvez seja maior. “Não é todo dia que abre um novo cartório. É um mercado restrito, mas que ainda é bem descentralizado”, avalia Lara, da Servcom. Os setores de saúde e agronegócio também são fortes candidatos para novos investimentos da Constellation no país.